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PLANTA COLETADA HÁ 126 ANOS POR FRITZ MULLER, E TIDA COMO EXTINTA É ACHADA EM APIÚNA

16/04/2016- 07h21min

Por Lucas Paraizo

O biólogo Luís Funez exibe a planta descoberta em Apiúna. No detalhe, reprodução do desenho do exemplar

Foto: Patrick Rodrigues / Agencia RBS

Você já imaginou a história que pode existir por trás das plantas que vemos na natureza? Ao fazer uma trilha, por exemplo, e ver espécies que normalmente não crescem em meio ao concreto, já parou para pensar se alguma daquelas ali é um exemplar raro? Como ela chegou lá? Identificar tantas espécies não é trabalho fácil nem para os biólogos, mas a história de um blumenauense mostra que o verde ao nosso redor guarda muitas surpresas.

Luís Funez, 25, é biólogo formado na Universidade Regional de Blumenau (Furb) e mestre em botânica pela UFSC. Voluntariamente ele costuma fazer excursões pela mata na região de Blumenau em busca de espécies diferentes de plantas, mas no dia 18 de novembro de 2014 algo diferente chamou a sua atenção.

Ele estava em Apiúna, numa região chamada Subida, próxima à Usina Salto Pilão, caminhando pelo trilho do trem que lá ainda passa. Entrou em uma pequena trilha na mata ao lado da estrada e viu uma planta que não conhecia. Descobriu se tratar de uma variação do gênero Saranthe, da família Marantaceae, típica do Brasil e que tem como primo mais famoso os caetés, usados em jardins. Era menor que as plantas que Funez já conhecia, então ele fez fotos e trouxe muda para Blumenau, onde analisou e compartilhou seu achado com amigos. Cerca de oito meses depois, soube que o exemplar era de uma Saranthe ustulata, considerada extinta.

A história da Saranthe é curiosa. O ecólogo Lauro Bacca conta que ela foi descoberta pelo naturalista alemão Fritz Müller, que morava em Blumenau e a encontrou na região em meados de 1890. O material coletado por Müller na época foi enviado para o Herbário de Berlim, na Alemanha, onde foi registrada oficialmente.

Durante a Segunda Guerra Mundial um bombardeio na capital alemã destruiu o exemplar colhido por Müller. Como nos últimos 50 anos a planta não foi mais encontrada, foi considerada extinta. No entanto, 126 anos depois de Fritz Müller, Luís Funez a achou.

— O único registro da Saranthe ustulata era um desenho minúsculo em um livro muito antigo, mas através dele e dos relatos disponíveis conseguimos identificar que a planta que encontrei em Apiúna era mesmo ela. Uma espécie muito rara que não existe em nenhum outro lugar do mundo — conta Funez.

No mês passado o biólogo publicou um artigo sobre a sua descoberta e agora a leva para frente. Funez voltou à Apiúna e encontrou uma área grande tomada pela Saranthe. De lá pegou outras mudas que agora serão distribuídas entre herbários do Brasil e também da Alemanha, inclusive o de Berlim, onde ficava o exemplar de Müller.

— Esse exemplar que agora está registrado no herbário da Furb foi escolhido e vai representar toda a espécie, já que o encontrado 126 anos atrás não existe mais. Quero também deixar uma no Museu Fritz Müller aqui em Blumenau — destaca.

Urbanização pode comprometer reprodução da planta

Funez se preocupa agora com a preservação da espécie. Na região em que ele a encontrou em Apiúna, no Médio Vale do Itajaí, existem casas e a própria Usina de Salto Pilão muito próximas. Nos trilhos do trem também são usados herbicidas para evitar que o mato cresça na estrada. São fatores de risco que podem levar a Saranthe ustulata novamente à extinção.

— Analisando a planta descobri que ela tem uma espécie de óleo que atrai as formigas, e elas que dispersam as sementes. Talvez por isso é uma planta tão rara, pois uma formiga cobre uma área muito menor do que se a dispersão fosse feita por um pássaro, por exemplo — explica o biólogo.

Não há nenhum benefício ou uso medicinal confirmado da planta, mas Funez diz que mais estudos são necessários para afirmar isso com certeza.

Fonte: https://dc.clicrbs.com.br/sc/estilo-de-vida/noticia/2016/04/planta-coletada-ha-126-anos-por-fritz-muller-e-tida-como-extinta-e-achada-em-apiuna-5779556.html > Acessado em 04/11/2016